Museu da Parteira – Acolhimento, Resistência, Visibilidade

Museu da Parteira: acolhimento, resistência, visibilidade

O Museu do Homem do Nordeste, na sala Waldermar Valente, recebeu, entre novembro de 2016 e abril de 2017, a exposição Museu da Parteira: acolhimento, resistência, visibilidade. A exposição levou ao público o cotidiano das parteiras tradicionais de Pernambuco – sua casa, vizinhança, caminhos, animais, religiosidade, práticas e rostos – por meio de objetos cotidianos, áudios, documentos e fotografias de autoria de Eduardo Queiroga.

“Acolhimento, Resistência e Visibilidade dizem respeito ao universo do partejar como percebido pelas parteiras tradicionais, pautado na dádiva, seja enquanto dom divino, seja enquanto algo que se dá e se recebe. Também diz respeito ao que lhes tem sido negado, a despeito de sua relevância, e ao que buscamos revelar sobre as parteiras tradicionais”, aponta a equipe do Museu da Parteira, responsável pela curadoria da mostra.

A ação, coordenada pelo Instituto Nômades, Grupo de Pesquisa Narrativas do Nascer/DAM/UFPE e Grupo Curumim, foi um diálogo entre parteiras, pesquisadores e fotógrafos, e fez parte do Programa de Exposições Temporárias do MuhNE, que busca difundir conhecimentos sobre a diversidade cultural da região e dar visibilidade a múltiplas fazedoras e fazedores de memória.

Conceito – Acolhimento, resistência e visibilidade.

“Acolhimento” diz respeito à lógica do ofício de parteira tradicional. Elas “ajudam” as mulheres a terem seus bebês, e percebem seu ofício como um chamado divino. Quando atendem partos, elas são as amigas, comadres, que acolhem a parturiente, geralmente sem pensar no que vão receber em troca.

“Resistência” é uma leitura possível do deslocamento das parteiras tradicionais nas políticas públicas, nunca sendo abordadas em sua integridade. Por um lado, são como um “mal necessário” para as políticas de saúde, no qual sua ampla diversidade de práticas e saberes precisa ser nivelada na forma de capacitações que as “ensinem” sobre a biomedicina (mas que pouco  aprendem com seu ofício). Por outro lado, são muito próximas ao campo da saúde e da biomedicina para serem objeto de atenção das políticas culturais.

“Visibilidade” é a proposta do Museu da Parteira e das ações que o gestaram: valorizar o ofício de parteira tradicional, a começar por mostrar que elas existem, trabalham, ensinam seus saberes.

 A exposição buscou mostrar o cotidiano das parteiras de modo que a visitação se identificasse, de alguma forma, com o contexto cultural de sua atuação. Ou seja, criar uma proximidade que vem sendo desgastada com narrativas sobre o parto e o nascimento cada vez mais padronizadas e centradas na intervenção biomédica.

 A exposição

Para a exposição foi realizada a curadoria de documentos, objetos e fotografias que mostravam quem são essas mulheres parteiras, quais seus objetos e ambiente de trabalho e quais ações de políticas públicas das áreas da saúde e da cultura englobavam seu ofício. Assim, abordou-se também a trajetória do processo de patrimonialização dos saberes e práticas das parteiras tradicionais, desde o INRC até o Museu da Parteira.  Propusemos mostrar o cotidiano das parteiras de modo que a visitação se identificasse, de alguma forma, com o contexto cultural de sua atuação. Para a abertura da exposição produzimos um Vídeo-Convite (https://youtu.be/SNQssRN41uk

As parteiras tiveram papel essencial na montagem da exposição, tendo sido responsáveis por cuidar da seleção e organização da apresentação das ervas e de elementos da “casa da parteira”, bem como de selecionar as fotos mais significativas de encontros de parteiras, das reuniões das associações, que estavam acessíveis ao público. Também participaram em alguns momentos da mediação da exposição, quando o público pode ouvir histórias por elas vivenciadas. Antes da abertura da exposição, foram feitas duas formações para a equipe de educadores do MuHNe com a presença de parteiras tradicionais falando de sua atuação e de integrantes da iniciativa apontando os caminhos percorridos no processo de patrimonialização do ofício.

Durante o período em que esteve aberta ao público, outras atividades foram agregadas. Uma oficina sobre alimentação saudável na gravidez com a parteira Edileuza; uma roda de diálogo sobre a situação do ofício com representantes das Associações de Parteira e o Seminário “Parteiras tradicionais em Pernambuco: patrimônio, memória, salvaguarda e o papel dos museus” (no âmbito dos Seminários Memória, Museologia e Patrimônio, que têm duas edições por ano), no qual se discutiu o papel dos museus na salvaguarda do patrimônio imaterial e o andamento do processo de reconhecimento dos saberes e práticas das parteiras tradicionais como Patrimônio Cultural do Brasil.


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