03/03/2023

Relato de Maria das Dores Marinho, Tefé/AM

Foto enviada por Dores. Dores é a segunda da esquerda para direita.

Meu nome é Maria da Dores Marinho Gomes. Moro no município de Tefé, mas nasci no município de Fonte Boa, onde fui assistida por uma parteira. Minha mãe teve todos os partos pela mão de uma parteira. Minha avó era parteira, já partiu. Minha mãe está viva ainda. Aqui na cidade fui acompanhando minha mãe quando ia parir, eu ficava ajudando a minha mãe. Mas eu tive um conhecimento, uma troca de conhecimento, quando fui trabalhar numa área indígena. Lá eu conheci as parteiras tradicionais e aí nós começamos essa troca de saberes. Entrei em uma instituição para trabalhar. Consegui estudar, fazer o técnico de enfermagem. Nessa instituição entendi que eles já faziam trabalho com as parteiras, pois ao visitar as comunidades viam que já existiam muitas parteiras. Elas tinham muita dificuldade pois não tinham material para fazer parto. Daí elas faziam com que elas podiam, dentro de suas pequenas condições. O Instituto Mamirauá começou a fazer os encontros para as trocas de saberes e fazer uma conexão entre as secretarias de saúde dos municípios. Foi aí que eu comecei a me inteirar mais, estar junto com as parteiras na troca de saberes. Em 2018, participamos do congresso da Rede Unida onde a associação nasceu. Ela ganhou o nome de Algodão Roxo porque muitas parteiras colocaram a importância da folha, da raiz, do sumo, do chá que o algodão roxo tinha. Inclusive ajuda a evitar o aborto, infecção urinaria, ajuda a diminuir o sangramento e aí essa associação nasceu em 2018.

Hoje a Associação está lutando para cada dia mais se organizar. Tem avançado com algumas emendas parlamentares, com apoio da Fiocruz. Tem uma pessoa que tem nos apoiado bastante, está junto, está nos dando as mãos, está cada dia nos ajudando a nos fortalecer, que é o Doutor Júlio Cesár. A gente tem conseguido se organizar através desses projetos. Então hoje, a gente tem conseguido alcançar vários municípios. Temos dificuldades sim, porque não é fácil. A Associação é do estado do Amazonas, então nós vamos em cada município que tem uma parteira. A gente vai tentando se mobilizar com as secretarias de saúde para que a gente consiga recursos, condições para melhorar a qualidade do parto.  

Hoje com a Associação organizada, as parteiras já conseguem em alguns municípios receber material que é necessário para fazer um parto. Elas conseguem que em seu município, através do agente de saúde, chegue nela todo o material que precisa. Hoje as parteiras já têm uma esperança de que seus direitos venham ser reconhecidos. A luta é essa. Anos e anos e anos… muitas já partiram, mas a gente não desiste. A gente sabe que vai chegar um momento que as pessoas vão olhar, vão ver a importância dessas parteiras que estão nas suas comunidades. E nós sabemos que os médicos não estão lá. Se nós já temos dificuldade, em nossa cidade, de ter médicos constantes, médicos especialistas na nossa cidade… imagine nas comunidades… Mas graças a Deus onde tem uma parteira, ela tá lá fazendo a diferença, ajudando, orientando, incentivando a grávida, falando sobre a importância do pré-natal. Isso é importante. A Associação vem fortalecendo cada dia mais essas parteiras para que elas consigam ter esse elo entre a secretaria de saúde, o agente de saúde e a parteira. Estando juntos, eles conseguem ajudar uma grávida, incentivar a grávida a fazer o pré-natal. Quando a grávida está bem, quando não corre risco, ela consegue parir na sua comunidade. Num lugar que ela vai evitar muitos gastos. Às vezes ela nem tem para chegar numa cidade. Então na sua comunidade ela não corre o risco de passar por temporal, tempestade, num lago, altas horas da noite. Tudo isso é muito perigoso. Então quando ela consegue parir na comunidade dela ela só tem a ganhar. Então, por isso a gente luta pelo fortalecimento das nossas parteiras tradicionais, porque a gente sabe que elas estão aí trabalhando com amor. Elas têm o prazer de executar esse ofício, esse dom, que ela recebeu de Deus. Então para ela é gratificante poder ajudar, somar com a sociedade.

Relato oral de Dores (1/3)
Relato oral de Dores (2/3)
Relato oral de Dores (3/3)

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