14/07/2022

Relato de Maria Luiza Dias (Malu)

Eu me sinto muito feliz de ser uma parteira tradicional. Estou com 65 anos. Sou mãe de 5 filhos. 3 meninas e 2 meninos. Tenho 7 netos e 1 bisneto. Meu relacionamento com as parteiras se iniciou quando eu tinha 8 anos de idade. Eu acompanhava a minha avó que ia fazer parto, acompanhava nos trabalhos de assistir às mulheres. Quando ela estava ajeitando a mulher, ou quando a criança estava nascendo, ela estava pedindo a tesoura para cortar o umbigo, o fio para amarrar o cordão umbilical. Se era preciso dar banho na época, eu amornava a água, colocava numa bacia para que a criança fosse banhanda. Era esse o meu trabalho. Com o tempo fui crescendo, minha avó veio a falecer, aí eu comecei a fazer companhia a minha mãe que também era parteira tradicional.

Foto enviada por Malu.

O tempo foi passando, a gente começou a se organizar aqui no estado do Amapá como Associação e numa dessas reuniões, numa dessas palestras, que a gente ia até o governador para solicitar a valorização das parteiras… a gente estava numa reunião no palácio do governo aqui no Amapá e na nossa saída do palácio a minha mãe foi atropelada por uma moto e veio a óbito. A partir daquele momento eu fiz um prometimento que eu ia assumir a profissão de partejar. Já que eu tinha aprendido com a minha avó, depois com a minha mãe.

Foto enviada por Malu.

Antes do falecimento da minha mãe, eu estava com 14 anos, eu fiz o primeiro parto dentro de uma canoa muito pequena que só tinha espaço para colocar a rede da grávida. Mesmo assim eu fiz esse parto. Não tinha tesoura, não tinha nada. Eu fiz porque foi um momento de emergência. Foi o primeiro parto que eu realizei. Hoje eu tenho 380 partos. Graças a Deus nunca tive nenhum problema, nunca tive nenhuma morte, nem de mãe, nem de filho, nem dos bebezinhos. Eu me sinto muito feliz por isso. Estamos levando a vida até quando Deus quiser. Eu trabalho da nossa profissão, do nosso ofício de parteira tradicional. Tenho fé de que vou cumprir com a minha missão até meus últimos dias.

Relato oral de Maria Luiza Dias (Malu)

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