O embrião do projeto Mães de Umbigo vem do desejo das parteiras terem suas histórias registradas em um livro e se desenvolve pela urgência em se registrar e contar a trajetória dessas mulheres que “pegam menino”.
Parteiras são mulheres detentoras de conhecimentos acerca de costumes, técnicas e saberes “da arte de botar gente no mundo”, como dizia Mário Souto Maior. Lideranças e referências de saúde nos grupos em que atuam, exercem múltiplos papéis em suas comunidades: além de parteiras, são agentes de saúde, mediadoras de conflitos, “psicólogas”, “juízas”. São mulheres dedicadas, lutadoras, que, dia ou noite, “acodem” outras mulheres que dão à luz aos seus filhos. Suas histórias, que marcam e são marcadas pelo seu ofício, refletem a realidade da lida da vida.
Neste livro, três mulheres referenciadas em suas comunidades, bem como em outros círculos, representarão o universo da partejar tradicional em Pernambuco, parte integrante e importante do patrimônio imaterial do país.
Parteiras
Maria dos Prazeres de Souza (Prazeres), nascida em 1937, moradora do município de Jaboatão dos Guararapes, Região Metropolitana do Recife, filha e neta de parteiras, já perdeu as contas de quantas crianças ajudou a nascer. Articula e reúne parteiras na Associação de Parteiras Tradicionais e Hospitalares de Jaboatão dos Guararapes, da qual é presidente. Ao longo de sua vida, prestou assistência a mulheres em partos domiciliares e hospitalares. Nos últimos anos vem sendo solicitada a atender partos de mulheres e casais de camadas médias, público bastante diferente do que costumava auxiliar. Conta que vem fazendo a “simbiose” dos saberes tradicionais e técnicos acumulados em sua trajetória de vida. Em 2008, recebeu o Diploma Mulher-Cidadã Berta Lutz, ofertado pelo Senado Federal a mulheres que “tenham oferecido contribuição relevante à defesa dos direitos da mulher e questões do gênero”
Josefa Alves de Carvalho (Zefinha), nascida em 1938, aprendeu “no susto” a assistir partos, atendendo à necessidade da comunidade, no município de Caruaru, agreste de Pernambuco. Parteira há mais de quatro décadas, tendo assistido mais de mil partos, acredita que aprender o ofício por meio da observação e ter sucesso nos atendimentos é um dom divino. Durante anos foi presidente da Associação de Parteiras Tradicionais de Caruaru, fundada em 1992, responsável por agregar parteiras de todo o Agreste e promover reuniões de troca de experiência e mobilização política.
Maria das Dores da Silva Nascimento (Dôra), nascida em 1964, liderança e parteira Pankararu, iniciou-se no ofício aos 18 anos acompanhando parteiras mais velhas no momento em que mulheres das aldeias próximas davam à luz. Mantendo e transmitindo as tradições da etnia, Dôra é responsável pela inserção e formação de novas mulheres no ofício. Sua atuação vem ajudando as mulheres Pankararu a voltarem a ter filhos em seus lares, reforçando a identidade indígena e promovendo a valorização do ofício.
FICHA TÉCNICA
Organização: Júlia Morim
Textos: Júlia Morim e Elaine Müller
Projeto Gráfico: Zoludesign
Revisão de Texto: Carlos Costa
Fotografia: Eduardo Queiroga
Imagem de Acervo Pessoal: Maria dos Prazeres de Souza, Josefa Alves de Carvalho e Maria das Dores da Silva
Tratamento de Imagem: Marcus Cabral — Retoque de Imagem
Incentivo: Governo do Estado de Pernambuco, Secretaria de Cultura de Pernambuco, Fundarpe e Funcultura
Parceria: Instituto Nômades | Bebinho Salgado 45